A guerra que salvou minha vida

  Boa parte dos leitores que conheço tem fascinação por livros ambientados em época de guerra. Eu não sou diferente. Meus livros favoritos são quase todos nessa temática, que na minha opinião, é um tipo de homenagem as pessoas que viveram nessa época.

  A guerra que salvou minha vida, além de ser um exemplar belíssimo da editora Darkside, nos traz uma história maravilhosa, de forma delicada e poética. Ada é uma garotinha de 9 anos que vive com sua mãe (ela só se refere a mulher como "A Mãe", sempre com M maísculo) e seu irmãozinho Jamie. Ela nasceu com o pé torto, e por isso sofre com a ira da mãe que a nunca deixa sair do apartamento nem ao menos para usar o banheiro. Ir a escola? Pior ainda. A garota passa o dia em frente a janela, apenas olhando as pessoas indo e vindo. E se desobedecer a alguma ordem da mãe, é trancafiada em um armário úmido, cheio de baratas, até o dia seguinte. Um verdadeiro pesadelo para qualquer pessoa, não é mesmo? Mas Ada Smith não é qualquer pessoa. 

As vezes eu sentia muita raiva de tudo aquilo que não sabia.

  A única esperança surge quando a cidade decide evacuar todas as crianças para o interior, temendo o bombardeio alemão. A Mãe os proíbe de ir, mas Ada, que ficou dias treinando andar mesmo sem tocar o pé ruim no chão, carrega seu irmão até a estação e embarca. 

  Sendo as últimas crianças restantes para serem escolhidas pelos tutores provisórios, Jamie e Ada são levados a casa de Susan Smith. Uma moça que a princípio, nunca quis filhos ou pessoas com quem se importar e cuidar, mas acaba se afeiçoando demais as crianças. Elas, que nunca tiveram amor materno, se sentem totalmente protegidas e aprendem que há uma vida além daquele tormento em que viviam. 

Há coisas piores que bombas.

  A história toda é narrada por Ada, e é impressionante como isso tudo pode emocionar. Pra começar, como não ia a escola nem saía do quarto, ela não sabe o que são coisas simples, como torneira, descarga, ou até mesmo grama! E conforme ela descobre novas palavras e tenta explicar ao leitor o que elas significam, nós ganhamos uma dose de poesia a cada tentativa.

Um novo e desconhecido sentimento me preencheu. Parecia o mar, a luz do sol, os cavalos. Parecia amor. Vasculhei minhas idéias e encontrei o nome: Felicidade.

  Nem existem palavras pra dizer o quanto eu amei tudo. Os personagens, o jeito como demonstram o terror da guerra vista por uma criança. As sensações inéditas descritas através de palavras escolhidas. Esse livro está muito mais do que recomendado! Um dos meus favoritos, sem dúvida. 💜